sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Gosto mesmo, é das segundas feiras

Não gosto de sextas-feiras, nunca gostei.. Quando era mais nova e até gostava de ir às aulas, era o último dia de aulas da semana...o meu dia preferido é mesmo segunda-feira e se me perguntam porquê, nem sei, mas tem tudo a ver com recomeços. Como adoro mudanças, mudar de casa, sair de uma cidade para outra, viajar, acho que deve ser por isso.
Não aprecio saídas à noite, por isso o fim de semana, é sempre o que costumo chamar de atropelo. Muita gente em todo o lado. Somos mal servidos onde quer que vamos, no cinema há imenso barulho, pipocas pelo chão, gente que fala alto, pessoas barulhentas que se julgam donas de tudo....supermercados com filas de gente com muito pouca paciência, os famosos grupinhos de gente jovem que vai às compras para as festas de fim de semana ( aqui onde moro há  muito esse hábito), música ou espécies de música que jorram dos altifalantes de todo o lado, misturados com os gritos e a publicidade, as buzinas dos carros a protestar por um lugar de parque....ufa, minha rica semana.
Deve ser por estar mais velha e ter tido de certo modo  uma vida com muita gente e muito barulho, hoje prezo tanto o silêncio  dos meus passeios, da minha solidão em casa, sozinha  ou mesmo com o cara metade que adora ver filmes no sossego da casa, com os meus patudos, a minha música e o silêncio de lá de fora, que até já me conformei  com o facto de parte da minha casa estar virada a nordeste.
É a zona onde há silêncio, onde não tem estrada, há verde, um jardim que plantei quando para aqui vim e hoje me dá uma bela paisagem quando abro as muitas janelas da casa.
Se me levantar bem cedo, vejo o nascer do sol  por entre as árvores e de facto, apesar de um pouco fria nesse lado, esta casa é muito espaçosa, silenciosa, tem uma luz única, que pela manhã entra até meio dela, mas depois é reflectida por tudo à  sua volta e entra difusa e em cambiantes belos e serenos.
Durante algum tempo andei com a mania de mudar, hoje acredito que vim até ela e a vim ver umas quatro vezes antes de a comprar, a horas diferentes, porque nem  foi apenas  o seu enorme espaço que me encantou, foi esta luz  fantástica que me acompanha pelo dia fora....e que me anda a dar vontade de voltar a pintar!
Deste lado a nordeste, tanto é fresca, nem  diria fria  de inverno, como quente, muito quente mesmo, no verão.
Já do outro lado da casa, é quente e só usa calorífero quem não estiver bem da cabeça.
Bate o sol até às quatro da tarde, directo, tão forte que por vezes há necessidade de baixar os estores, um pouco para refrear o efeito do sol tão forte sobre tudo e criando um ambiente demasiado desigual entre as duas partes da casa.
Só em dias como hoje talvez, seja preciso algum aconchego de calor. é que o dia hoje está absolutamente cinzento, depois de um final de outono seco e muito frio, mas com uma céu azul radiante de beleza e sem nuvens, hoje voltámos ao cinza. Vem por aí chuva de novo.
No fundo, são três ou quatro meses de tempo mais frio, contas bem mais altas de electricidade e a possibilidade que anda não foi descartada, de colocar uma salamandra.
Levo tanto tempo a decidir as coisas....
Comecei falando nas sextas-feras e acabo falando do meu espaço, onde adoro recolher-me dos barulhos e gentes lá de fora. É quase ponto assente que aos fins de semana, escusam de me convidar a sair.
Cada vez estou mas avessa a esse burburinho de gente que, tal como eu, numa longa  época da minha vida, trabalhava toda a semana dentro e fora de casa, cuidando de ganhar parte do sustento da família e cuidando da mesma família.
Hoje preciso deste silêncio e desta calma, para conseguir sobreviver, não às minhas memórias, mas ao muito que hoje não posso e não quero pensar, que seja a realidade da minha vida, com a certeza de que décadas de esforço, trabalho, sofrimento, dedicação, de nada valeram, de nada serviram e eu hoje tenho de reconhecer que houve uma falha, uma enorme falha  algures, por que em vez de amigos, criei inimigos e em vez de filhos, criei estranhos.
Essa é sem sombra de dúvida a minha maior tristeza e a razão principal porque não gosto dos finais de semana.
Já foram vividos na plenitude, hoje apenas restam os silêncios.

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