sábado, 27 de junho de 2015

À procura de mim própria

Comecei a ler Tenzin Gyatso ( Dalai Lama), há uns bons anos atrás, aquando  de uma profunda  depressão pós parto.
Nunca mais deixei de ler. Teve condão de me mudar, de me tornar mais silenciosa, mais tolerante, menos irascível. 
Tenho algum  mau feitio, isto é,  sou muito dona do meu nariz e opinião.  Raras vezes acato opiniões alheias, mesmo que as minhas me façam dar um enorme trambolhão...e já não é  a primeira vez que acontece.  Mas nunca deixei de ler, inclusivamente o meu filho mais velho tem parte dos meus livros.
Há tempos atrás, mais de um ano, voltei a ler  e com mais afinco.
A desilusão ditou a necessidade de apoio.  
Depois de mais de trinta anos sem saber de dois familiares, os ter conseguido descobrir e também,  constatar  que não eram as pessoas que eu amara um dia. 
São as tais cicatrizes, que constituem o nosso eu, a ferida sarou e já nem penso, coisas que vou fechando em gavetas. Já passou ! Gaveta fechada e colocada bem no fundo da memória.
Vocês usam esse método? Tenho milhares dessas gavetas. Nenhuma esquecida e sei o conteúdo de todas. 
Voltando a  Tenzin Gyatso,  sigo há anos  os seus passos. Mas não só, apesar de ser naturista em termos de religião, a verdade é  que fui educada pelo catolicismo. Mas afastei-me muito cedo. Apesar disso, ultimamente dei comigo  a comparar  o Papa Francisco  e os escritores  e iluminados que leio. E há muito deles, nesse homem que parece ser bom e querer revolucionar a igreja. E há muito da simplicidade de Jesus nele.
Hoje procuro um Deus e descobri que habita em mim. 
Eu e você, que passa por aqui para ler o que aqui venho escrever de vez em quando, fazemos parte dele.
A par dele, e pelo que coloco aqui, deve calcular que  também leio outros. Um deles, de paixão, Nietzsche. Sou um pouco louca como ele. Também eu não acredito em deuses, imagens, nem alma, apesar de a referir muitas vezes. 
Sartre. Milán Kundera, e alguns outros, como Vergílio Ferreira, etc...Se der conta, há entre todos um fio condutor. A procura de nós mesmos.
Leio ainda Rumi. Ou seja a poesia Sufi, e os ensinamentos desse escritor e poeta turco. Também Shams Tabrizi. E os antigos filósofos chineses.
No fundo há em mim a sede de encontrar a força que tudo rege. Através de Rumi, chegamos à conclusão que ela  está em nós, tal como com Tenzin Gyatso.
No fundo escrevo sobre alguns escritores e filósofos que me ajudaram a ser uma pessoa mais tolerante, porque eles nos ensinam, que somos apenas pó de estrela  e a ele voltaremos. Ou seja, não somos nada, partículas que nunca morrem, apagam e voltam a viver noutro que nos seguirá.
Impensável há vinte anos atrás escrever sobre isto. Eu estava no caminho, só que muito mais atrás.
Se está a passar por um mau pedaço na sua vida, aconselho-o a ler e aprender a meditar. 
Aprendi a meditar até quando estou rodeada de gente. Mas é nas minhas caminhadas diárias,que encontro essa capacidade. Olhando a natureza, sentindo que ela nos envolve.  Experimente.  Não sabe o bem que lhe fazia.

"A única forma de desenvolvimento é um esforço constante através da meditação. É claro que, no início, isso não é fácil. Encontram-se dificuldades inesperadas, às vezes há perda de entusiasmo. Ou talvez o entusiasmo inicial seja excessivo e diminua progressivamente com o passar das semanas ou meses. É preciso elaborar uma abordagem persistente, constante, baseada em um compromisso de longo prazo."

Tenzin Gyatso, «O Livro de Dias» 


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