segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Para mim Natal era antigamente !!




Cada ano que vai passando me vou afastando mais do que se chama a quadra, ou aliás, como as pessoas a vivem.
Para mim Natal era antigamente, em duas épocas distintas, mas muito importantes. 

Quando era criança e toda a família junta,  com pais, avós e tios, primos, tudo à mesa, tudo a ajudar a descascar batatas, abóbora, a arranjar os grelos e as couves, a descascar os nabos e as cebolas, a ajudar a avó a dar duas ou três voltas com a enorme colher de pau, à massa das filhós ou do pão ou da broa.. com  as jarras com azevinho e um pinheiro que se tinha ido cortar ( falta de consciência) aos nossos pinhais....e se enfeitavam de pompons de lã, bolinhas de algodão e os enfeites vendidos nas feiras.  
Quando se ia  com uma caixa de madeira buscar o musgo lá também aos pinhais e se trazia pinhas caídas para fazer a estrutura da gruta do presépio, ( para o menino Jesus não ter tanto frio....como dizia meu avozinho, católico fervoroso e temente a Deus.)...e o "cheiro"  do Natal  se misturava com o das filhós e rabanadas, coscorões e aletria. e o da comida que haveria de se comer depois da vinda da missa do galo...havia no ar, como que uma santidade, um perfume que jamais esquecerei.

Presépio, o de casa dos avós, que era feito no chão da sala da avó e toda a gente vinha ver de tão lindo.  E depois lá vinha o padre e o sacristão, buscar a dizima ou lá como se chamava, e comer umas e outras e beber vinho abafado que a avó fazia com ameixas e laranjas...tocavam a sineta,  à porta e lá entravam...quando acabavam a volta, o padre e o sacristão, estavam comidos para 48 horas... e que mal se tinham em pé de tanto cálice de abafado terem bebido... 

E depois quando já adulta e com a minha prole, tentava replicar as minhas recordações mas  num apartamento, já sem os tios, ou os avós, todos  há muito falecidos, mas com a família que eu tinha gerado.
Esses natais, eram também lindos, mas eu não sou hipócrita, não tinham a magia de outrora, onde a riqueza era tida como pecado....e eu não tinha sido capaz de transmitir aquele espírito que me deram a mim,  eu não o consegui passar...estes natais eram de prendas, de muito trabalho para mim ( só eu sabia fazer as coisas e dava a amigos e vizinhos que nunca tinham sido ensinados a fazer as doces iguarias)... durante anos, lá saíam de minha casa, apesar de ser uma jovem, travessas com filhós, coscorões e rabanadas,  para oferecer .

Com a idade e a minha consciencialização de que o mundo é falsidade e que tudo o que luz é tudo menos ouro, os natais foram esmorecendo. 

Os filhos deixaram de estar connosco, Uns porque criaram as suas famílias outros porque preferiam ficar com os namorados, e a quadra passou a ser vivida a dois e aos de quatro patas.
Por isso este ano ainda não enfeitei nada. 
De ano para ano. tem vindo cada vez mais para menos....claro que vou colocar algo, afinal Natal também é para estes que ainda cá estão. mesmo sozinhos e só com os filhos de quatro patas.

E ainda hei-se conseguir recriar, esses outros natais, os de antigamente, mesmo que apenas com amigos e vizinhos, quando voltar e for viver de novo para o campo. 

A nossa meta. minha e de meu companheiro de uma vida, ir viver na calma do campo,  antes de partir e virar pó estelar.
Mas antes disso, ainda havemos de experimentar estar num paquete e num hotel, para ver como vivem os outros, ao que a família também não está presente, ou que apenas querem comemorar mas sem se chatear a estar numa trabalheira infernal. Ao fim de uma vida de trabalho e tão pouco reconhecimento. temos esse direito. Merecemos.


Apesar de não crente, na verdade, o Natal não é de todo uma festa de família, é uma festa de renascimento e hoje eu sei melhor que ninguém que não se trata de religião, mas de vida, do que se fala no Natal. E nós queremos muito viver muitos mais anos e celebrar muitos outros Natais. Que é como eu acho, a festa da vida, do renascer, um solstício dá origem a uma nova etapa de vida ao renascer de tudo.

Por isso, desejo a todos os que ao longo destes anos aqui têm vindo ler o que escrevo ou  o que partilho,  um feliz Natal,  seja  esse período vivido a solo ou com muitos ao vosso redor, mas que seja de paz, de harmonia dentro dos nossos corações e que,  essencialmente, tenhamos saúde e esperança em dias melhores e por um mundo mais igual e sem guerra.


Feliz Natal amigos!!

GR






Arte naif de Alessandra Placucci

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