terça-feira, 18 de novembro de 2014

Canção de Outono







No entardecer da terra,

O sopro do longo outono
Amareleceu o chão.
Um vago vento erra,
Como um sonho mau num sono,
Na lívida solidão.

Soergue as folhas, e pousa
As folhas volve e revolve
Esvai-se ainda outra vez.
Mas a folha não repousa
E o vento lívido volve
E expira na lividez.

Eu já não sou quem era;
O que eu sonhei, morri-o;
E mesmo o que hoje sou
Amanhã direi: quem dera
Volver a sê-lo! mais frio.
O vento vago voltou.

1910
Fernando Pessoa (1888-1935)

Encontrei aqui : http://dispersamente.blogspot.pt/2010/

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