"E não do tamanho da minha altura."
" Releio
passivamente, recebendo o que sinto como uma inspiração e um livramento,
aquelas frases simples de Caeiro, na referência natural do que resulta do
pequeno tamanho de sua aldeia. Dali, diz ele, porque é pequena, pode ver-se
mais do mundo do que da cidade; e por isso a aldeia é maior que a cidade...
"Porque eu
sou do tamanho do que vejo
Frases como
estas, que parecem crescer sem vontade que as houvesse dito, limpam-me de toda
a metafísica que espontaneamente acrescento à vida. Depois de as ler, chego à
minha janela sobre a rua estreita, olho o grande céu e os muitos astros, e sou
livre com um esplendor alado cuja vibração me estremece no corpo todo.
"Sou do
tamanho do que vejo!" Cada vez que penso esta frase
com toda a atenção dos meus nervos, ela me parece mais destinada a reconstruir
consteladamente o universo. "Sou
do tamanho do que vejo!" Que grande posse mental vai
desde o poço das emoções profundas até às altas estrelas que se reflectem nele
e, assim, em certo modo, ali estão."
Nota: Pessoa, na
"pele" de Bernardo Soares, um seu heterónimo, escreve sobre Alberto
Caeiro, outro dos muitos heterónimos, in «O guardador de rebanhos»
Livro do Desassossego, Bernardo Soares um dos muitos heterónimos de Pessoa
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